Polícia Federal prende 36 pessoas durante a Operação ‘Carne Fraca’

Por: Redação

Duas pessoas, dono e diretor do frigorífico Frigobeto, estão foragidas.
Justiça Federal determinou bloqueio de até R$ 1 bilhão de contas bancárias.

Trinta e seis pessoas foram presas durante a Operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal (PF), na sexta-feira (17). De acordo com a PF, até esta noite de sábado (18), duas ainda estão foragidas: o empresário do frigorífico Frigobeto, Nilson Alves Ribeiro – que estaria na Itália – e o filho dele, Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, diretor da empresa.

Além das prisões, a Justiça Federal determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão das contas bancárias das 46 pessoas investigadas, e o Banco Central informou o bloqueio de pouco mais R$ 2 milhões.

Não significa necessariamente que cada um dos investigados tenha R$ 1 bilhão. Este é um teto estipulado pela Justiça.

Segundo a Polícia Federal, fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebiam propina para liberar licenças sem realizar a fiscalização adequada nos frigoríficos. A investigação indica que eram usados produtos químicos para maquiar carne vencida, e água era injetada nos produtos para aumentar o peso.

As carnes irregulares eram vendidas no Brasil e no exterior. Há também casos de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiças.

Ao todo, 22 empresas são investigadas na operação, das gigantes JBS e BRF – que controlam marcas como Seara, Perdigão e Friboi – a frigoríficos menores como Master Carnes, Souza Ramos e Peccin.

As autoridades não detalharam quais irregularidades foram cometidas por cada empresa.

As empresas afirmam que estão colaborando com as investigações e negam adulteração nos produtos. Há ainda a suspeita de que os partidos PP e PMDB eram beneficiados com propina.

Acordo para não fechar fábrica
Em São Paulo, o gerente de Relações Governamentais e Institucionais da Brasil Foods (BRF), Roney Nogueira, que teve a prisão decretada na sexta-feira, se entregou na manhã deste sábado (18) à Polícia Federal. Os advogados disseram que ele estava na África do Sul e retornou nesta madrugada. Roney será transferido para Curitiba na terça-feira (14).

De acordo com os investigadores, Roney Nogueira teria tratado de propina com Dinis Lourenço, chefe do Departamento de Inspeção do Ministério da Agricultura em Goiás. Conforme a PF, a conversa seria para impedir que o funcionamento da unidade da BRF na cidade de Mineiros fosse suspenso, por contaminação de uma bactéria. No despacho do juiz, a unidade, que processa frango e peru, aparece apenas como “Fábrica da BRF em Mineiros, Goiás.”

Segundo a Polícia Federal, uma conversa gravada entre Roney Nogueira e André Baldissera, diretor da BRF, indica que Dinis Lourenço pediu apoio em uma campanha eleitoral para que a unidade continuasse funcionando. Dinis e André Baldissera também estão presos.

Veja a transcrição da conversa
Roney: eu vou contar o que ele pediu. Aí ele pediu o seguinte que hoje, ele tá, o Dinis tá pra assumir como o superintendente. Porque a bancada que cuida aqui do Ministério da Agricultura é do PDT. E para ele ficar como superintendente ou ficar no Sipoa ele tem de dar resultado para a bancada do PDT. Ele pediu apoio da BRF aí nas eleições municipais, tá.
André: ah, vamos fazer.
Roney: agora eu vou cobrar ele. Entendeu. Se ele quer a minha ajuda, ele vai ter que bater no peito e conseguir isso aí pra gente. E se não conseguir, eu não consigo nada. Entendeu?
André: essa é uma notícia muito boa.

Sipoa é o Departamento do Ministério da Agricultura responsável pela fiscalização de produtos de origem animal.

Não há informação no despacho se o apoio político foi efetivado. Mas, segundo o juiz Marcos Josegrei, a unidade de Mineiros não foi fechada, ao que tudo indica, pela influência de Roney Nogueira e André Baldissera.

A BRF é um dos maiores grupos produtores de alimentos do Brasil e dona de marcas como Sadia e Perdigão.

A Polícia Federal não informou quais marcas da empresa eram produzidas na unidade de Goiás.

Interdições após a operação
A fábrica da BRF em Mineiros foi interditada na sexta-feira pelo Ministério da Agricultura.
Neste sábado, caminhoneiros estavam parados à espera de liberação das notas fiscais para poder transportar as cargas. Na operação também foram interditadas duas unidades da Peccin Agroindústria: em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, e em Curitiba. A Peccin produz derivados de frango, porco e embutidos em geral, com as marcas Peccin e Itali alimentos.

Outro lado
BRF
A BRF declarou que a fábrica interditada de Mineiros está habilitada pra exportar para os mercados mais exigentes do mundo, como Canadá, União Européia, Rússia e Japão e
e que isso significa que segue as diferentes normas estipuladas por esses países.

Segundo a empresa, uma auditoria do Ministério da Agricultura, no fim de fevereiro, considerou a unidade apta a manter suas operações. A companhia também afirmou que a interdição é preventiva e temporária e que vai durar até que apresente as informações que atestem a segurança e a qualidade de seus produtos, o que vai acontecer em breve, uma vez que, segundo a companhia, os processos e os padrões estão entre os mais rigorosos do mundo.

A BRF declarou, ainda, que a empresa e seus técnicos respeitam os princípios éticos e legais do Brasil e dos países para os quais exporta, que não compactua com práticas ilícitas, que está realizando uma apuração independente e que tomará medidas cabíveis, caso seja verificado qualquer ato incompatível com a legislação.

A empresa também declarou apoio à fiscalização do setor e ao direito de informação da sociedade, com base em fatos, sem generalizações que podem prejudicar a reputação de companhias idôneas e gerar alarme na população.

JBS
A JBS declarou que a qualidade é a sua maior prioridade e a razão de ter se transformado na maior empresa de proteína do mundo. Acrescentou que exporta para mais de 150 países, como Estados Unidos, Alemanha e Japão e que é auditada por missões sanitárias internacionais e por clientes.

A empresa afirmou que, no Brasil, há dois mil profissionais dedicados exclusivamente a garantir a qualidade dos produtos JBS e das marcas Friboi e Seara  e que 70 mil funcionários têm treinamento obrigatório nessa área todos os anos.

A JBS afirmou, ainda, que no despacho da Justiça não há menção a irregularidades sanitárias da empresa, que nenhuma fábrica dela foi interditada, que nenhum executivo da companhia foi alvo de medidas judiciais e que não compactua com desvios de conduta.

Por fim, a JBS afirmou que reforça o comprometimento com a qualidade de seus produtos e que reitera seu compromisso com o aprimoramento das práticas sanitárias.

Dinis Lourenço
A advogado de Diniz Lourenço disse que a suspeita contra o cliente não tem comprovação e que não vai se sustentar depois do depoimento dele.

Roney Nogueira
A defesa de Roney Nogueira afirmou que o cliente retornou ao Brasil assim que soube do decreto de prisão para prestar os esclarecimentos necessários.

André Luis Baldissera
O advogado de André Luis Baldissera afirmou que não vai se manifestar até ter acesso a todo o conteúdo do processo.

PDT
O PDT de Goiás declarou que não tem envolvimento com nenhum ministério.

Peccin
A Peccin informou que repudia o que chamou de falsas alegações que levaram às prisões de seus diretores, e que tem interesse em contribuir com as investigações.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Nilson Alves Ribeiro, Nilson Sachelli Ribeiro, e com o Frigobeto.

Arte Operação Carne Fraca (Foto: Arte/G1)

Fonte: G1 Paraná.

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